sábado, 9 de abril de 2011

O Artista Popular



Meu sono me surrava e ainda era sete horas da noite. Sem a mínima piedade o sono olhava pra mim como se dissesse: Pague meu preço amante da Madrugada! Filho ingrato do Sol, porque o traiste?!?!?!! Tome a ira do meu poder!
A criatividade noturna é uma prática cara e é difícil negociar com o sono, a cafeína e outras inas também tem um preço... preço alto demais às vezes. Não gosto das idéias mais pesadas…

Terminada a gravação em Vargem Grande/Pequena,(não sei qual é qual), iniciava-se a odisseia que facilmente daria uma trilogia ou mais... Mas o trajeto não é o foco de hoje.
Nesse dia apenas estava preocupado em chegar em casa, tinha dois ônibus para enfrentar e muito tempo para encontrar a melhor posição para dormir entre uma freiada e outra. Pegamos a Linha Amarela, (238), e quando saltei já era pra atravessar a rodoviária para pegar o 233. Era um ônibus com ar-condicionado, o que agravou o caso do sono. Tinha bastante gente sentada, mas não estava lotado. Uma velhinha com cara de rica que foi roubada pelo filho maldoso e sem caráter senta-se ao meu lado com a pompa de uma Orleans & Bragança... e no próximo ponto entra pela porta de trás uma figura com um violão que agradecia ao motorista pela oportunidade, tinha uma roupa emgraçada, uma peruca amarela com uma boina por cima, camisa listrada, meia colorida e um allstar no pé… Foi para frente da condução e todos olharam ele com cara de eu não acredito que você vai fazer isso, nós queremos dormir. Até que surgiu a seguinte frase acompanhada do primeiro acorde. RESPEITÁVEL PÚBLICO!!!! PREPAREM-SE O ESPETÁCULO VAI COMEÇAR! Ele contou uma poesia musicada linda… Inventou que tinha uma ajudante lá atrás (final do ônibus) e nós acreditamos naquela mentira, ele conversava com a ajudante “Michele” o tempo todo e cantava uma música que tinha a palavra, Fenomenal, como refrão. E o ônibus já cantava com ele em alto e bom som! O motorista piscava as luzes do ônibus toda a vez que ele pedia… Ele dizia que a Michele gostava desse efeito de luz. O ônibus não era mais uma viagem e sim um show, duas meninas levantaram os braços e começaram a balançar no rítimo da música e eu acendi o esqueiro lá no alto como se estivesse no Rock and Rio ou cantando We are the World. Todos agora cantávamos a música dele… E ele ao nosso som contou uma poesia sem deixar de tocar os acordes no violão. Todos estávamos na mão dele… Para nós ele era um artista consagrado. E ele de fato é! Pra nós é! Quando de repente aquela mulher com cara de rica e soberba olhou pra mim e disse com toda aquela pose: Ainda existe coisa boa no mundo, SALVEM O ARTISTA POPULAR! 

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